"Sem lenço e sem documento...
Nada no bolso ou nas mãos,
Eu quero seguir vivendo, amor,
...
Por entre fotos e nomes,
Os olhos cheios de cores,
O peito cheio de amores vãos..."
Assim cantava Caetano Veloso, na sua canção Alegria, Alegria, marco inicial do movimento tropicalista em 1967...
Eu me pego, hoje, tantos anos depois, perguntando a mim mesma: afinal o que é alegria?... Ouvindo a canção... alegria parece ser algo muito leve, sem compromissos, livre, solto. Mas, olhando minha própria vida, vejo que alegria era a marca de momentos muito intensos e, por vezes, cheios de um comprometimento afetivo profundo... O nascimento de uma filha, o nascimento de um neto, a chegada de alguém muito querido, uma nova realização profissional, a criação de uma obra expressiva, um encontro com amigos especiais, a celebração de descobertas e progressos.
A alegria sempre me deixou com o coração em festa, como se quisesse saltar fora do peito, algumas vezes com os olhos cheios de lágrimas que teimavam em escorrer pela face, mas que não queimavam... A alegria é como aquele momento em que voltamos para casa para festejar com os mais próximos uma nova conquista, esquecendo todo o trabalho ou o sofrimento que o processo nos causou.
É claro que não podemos esperar que nossa vida seja composta apenas de momentos alegres. Creio que nossos corações não iriam dar conta... Precisamos intercalar os momentos alegres com outros apenas quietos ou, ainda outros em que precisamos resolver problemas, enfrentar crises, encarar a dúvida ou até mergulhar na dor. Tudo isso faz parte da vida e nos faz crescer...
Mas, sem sombra de dúvida, os momentos de alegria são os melhores. Se pudermos esquecer todo o resto e vivê-los intensamente, entregando-nos como se o amanhã não existisse, talvez possamos mesmo nos sentir leves como canta Caetano. Um segredo: estar 100% presente nesses momentos e não permitir que as preocupações possam turvá-los... Amanhã é um novo dia e estaremos nutridos para aceitá-lo do jeitinho que ele chegar...