Desde que Descartes formulou o
“Penso, logo existo...” o sentir foi relegado a segundo plano.
É muito comum ver as pessoas
fugindo de suas emoções... Fogem tanto que chegam a não mais reconhecê-las.
O território da razão parece ser
devidamente mapeado... tudo é lógico, seguro, previsível. Com a emoção isso não
acontece: é tudo instável, flutuante, às vezes até ameaçador...
A razão é como uma comida com
pouco tempero, não há surpresas. Ao contrário, a emoção é como uma iguaria com
temperos exóticos, de sabor desconhecido.
Quando a emoção nos toma de
assalto, deixa o registro de momentos especiais, sempre lembrados como algo que
valeu a pena ter sido vivido, mesmo que tenha sido assustador... Mas e a
calmaria que a razão nos oferece?
Nós, os seres humanos, temos a
mania da exclusão: ou razão... ou emoção. Talvez devêssemos experimentar o que Carl Gustav Jung nos
propõe: a harmonização dos opostos. Não mais aquela vivência capenga de uma ou
outra coisa, mas sim a integração, a completude: razão e emoção juntas,
complementando-se e permitindo vivências mais inteiras, enriquecidas em seu
significado, sem deixar nada de fora, abrangentemente plenas...
Lembro dos tempos de faculdade de
Letras, onde estudávamos na cadeira de Literatura Francesa o contraste entre as
obras de Corneille, o racional, e Racine, o apaixonado. Ambas belíssimas, mas
cada qual com uma visão diferente de mundo. Naquele tempo eu era mais
Corneille...
Hoje, fazendo uma retrospectiva da minha vida, vejo que foram os
momentos de turbulência emocional, mais Racine, que me desafiaram a crescer. No
previsível, só a mesmice do que já era sabido...